Da Surpresa Ao Adeus

Em um lindo dia na capital, novamente fui surpreendido pelo meu destino.

Estava eu, dentro do transporte coletivo indo para casa, mas como de costume fiquei fazendo o que mais me agrada que é me comunicar com as pessoas, em meio as minhas explicações sobre temáticas variáveis e com certo tom de graça claro, faltou-me palavras quando ela se aproximou, por um momento só me importei em admirar aqueles olhos escuros como a noite, o cabelo negro que aos seus movimentos pareciam seda e por fim, a pele clara, linda, maravilhosa de tão atraente, pude imaginar os Deuses do Olimpo se esforçando ao máximo para esculpir tal escultura tão bela e tão divina, escultura essa que tomou total atenção de meus olhos, os quais fizeram minha mente desejar ouvir a voz do anjo que fitavam, tinha plena certeza de que sua voz seria tão doce quanto seu rosto, seus olhos, seu corpo.

Já decidido comecei a tornar a explanação ainda mais tendenciosa, com o objetivo de aproximar o assunto, mas por um segundo pensei que não seria capaz de me comunicar com obra tão perfeita quanto aquela. Foi então que fui pego de surpresa, pois meus esforços estavam valendo à pena, muito a pena. Primeiro com olhares sutis, que foram seguidos por um sorriso, sorriso que fez meu coração disparar, minhas pernas tremerem e ao mesmo tempo o sentimento de vitoria, de realização.

Depois do feito foi que me senti mais ousado, mais corajoso, aproveitando que uma senhora havia se levantado do assento resolvi tentar uma aproximação maior, então com dois toques cuidadosos e ao mesmo tempo cheios de euforia com os dedos em seu ombro consegui sua atenção por inteira, foi como se só existíssemos nós naquele ônibus, nada mais importava, só ela, só o rosto, só o todo. Tratei logo de oferecer o lugar que estava vago, sua resposta foi negativa, mas com tamanha educação e serenidade juntamente com outro sorriso, o que me alegrou ainda mais, nesse momento percebi que estávamos tão próximos apesar da distância que nos separava.

Com persistência continuei a conversa, até que depois de muito esperado consegui finalmente apreciar o tom de sua voz, confirmando todas as expectativas com tamanha doçura e suavidade. Tudo estava completo, foi o que pensei, mas não, ainda faltava algo para que o perfeito fosse completo, minha vontade era de saber mais, eu queria mais daquele ser tão esplendido e tão misterioso, que me encantou de tal forma em um lugar que para muitos, principalmente de minha cidade diriam ser impossível de ocorrer.

Foi questão de tempo para que a conversa fluísse e nos aproximássemos ainda mais, quando o ônibus novamente encheu, pude a ter mais perto, me apressei em percorrer todos os seus mínimos detalhes, como um artista analisando uma obra, rapidamente eu percebi uma tatuagem que me intrigou ainda mais, pois logo reconheci de tão familiar que me era duas máscaras com afeições diferentes desenhadas tão bem e tão nítidas eu seu pulso esquerdo, símbolo que representa a arte da dramaturgia ou vulgo teatro, me apaixonei ainda mais por aquele ser, muita coincidência cruzar com uma admiradora da arte que mais amo na vida. O detalhe tomou minha mente e também meu coração em tão pouco tempo assim como aquele anjo. Sonho seria a palavra a usar para descrever tal experiência naquele ônibus.

A arte em seu corpo foi o ponto de partida para que eu pudesse conhecer sua originalidade, seus gostos, seus feitos e suas ideias. Logo seu destino chegou, um simples adeus restou e um pensamento em minha confusa e sonhadora mente ficou, pois soube tanto e ao mesmo tempo tão pouco, segui meu caminho sem ao menos saber o nome do anjo que cruzou em minha vida me levando a lugares tão lindos e iluminados em apenas alguns minutos. Só me resta o desejo de que um dia nossos destinos possam novamente se cruzar.

Valnei Fils (21-04-2010)